Vasco Batista – Polónia – Cracóvia

 Vasco Batista- Polónia – Cracóvia

1 – Gostaria de saber a sua idade, naturalidade.
Olá, sou o Vasco Baptista e tenho 24 anos. Sou natural de Ourém, uma cidade situada no centro de Portugal, bem próxima de Fátima.

2 – Pode-nos falar um pouco sobre o seu percurso académico e profissional?.

Como desde miúdo sempre tive uma grande queda para a electrónica, iniciei o meu percurso académico na Universidade de Aveiro. Concluí em 2011 o Mestrado Integrado em Engenharia Electrónica e Telecomunicações. Desde 2009 a inicios de 2011 fiz parte do programa de mobilidade ERASMUS em Łódź na Polónia.

Em 2011 voltei à Universidade Aveiro onde terminei a minha dissertação e me foi atribuida uma bolsa de investigação. Durante esse mesmo ano fui colaborador da empresa Micro I/O, também em Aveiro, onde trabalhei em vários projetos de investigação.

Realizei na mesma empresa um estágio para acesso à Ordem dos Engenheiros, da qual sou membro desde 2012.
Neste momento encontro-me a trabalhar como engenheiro de software na empresa Nokia Siemens Networks em Cracóvia, na Polónia.

3 – Foi sempre seu desejo viver e trabalhar fora de Portugal ou tratou-se de uma necessidade?

Na realidade, grande parte da minha familia encontra-se a trabalhar no estrangeiro, alguns na Austrália e os restantes em França. Sempre tive curiosidade em arriscar e experimentar a sensação que seria viver num outro país e imerso noutra cultura. Apesar de ser um desejo que sempre tive, as condições em que Portugal se encontra neste momento levaram a que a necessidade tivesse também o seu peso na minha decisão.

4 – Conhecia alguém em Polónia que tenha ajudado na sua integração?

Como estive em 2009 na Polónia no programa ERASMUS, o nível de dificuldade de integração deste último meu passo não foi tão extremo.
O programa ajudou na minha integração em praticamente todos os aspetos da cultura e sociedade Polaca, já que nessa altura a tarefa é feita em conjunto com muitos outros estudantes na mesma situação. Tenho portanto de deixar um agradecimento a todas as seções ESN pelo esforço e impacto a nível de integração de estudantes num novo país.

De qualquer forma, desde 2009, fiz muitas amizades com Polacos e Polacas, que sempre se mostraram dispostos/as a ajudar em qualquer situação que fosse necessário.

5 – A Polónia foi um dos países mais afectados pela segunda guerra mundial. Sente que ainda sofrem as consequências desse ataque? 

Sim, ainda é possível observar pensamentos e comportamentos em várias pessoas, que foram deixados pelos horrores da segunda guerra mundial e pelos massacres dos campos de concentração quando Hitler se encontrava no comando. Uma das coisas que ainda me deixa impressionado é o facto de que todos estes massacres ocorreram apenas algumas décadas atrás. É surpreendente visitar, por exemplo, o campo de concentração de Auschwitz e imaginar que os massacres começaram por volta de 1940, nem à 80 anos atrás!

Um dos pontos a notar também, são as influências do governo comunista, presente até 1989. Facilmente encontramos pessoas que viveram nestas épocas, mantendo ainda os costumes e tradições dessa altura.

6 – Para si quais os pontos positivos que a Polónia tem enquanto país?
Apesar da Polónia ter sido um país muito massacrado nestes últimos 100 anos, desde 1990 tem vindo a recompor-se e a subir cada vez mais em todas as vertentes. Desda subida vários pontos positivos começam a emergir.
A Polónia é um país muito diversificado em termos de cultura, sociedade e ambiente, tendo muito para oferecer não só a nível turistico como também a nível de quem cá vive. Para quem gosta de montanhas, planicies, rios, lagos, oceano, sol, natureza, ou neve, a Polónia é um país bastantante rico.

Depois da guerra, grande parte das cidades necessitaram de ser reconstruídas, possibilitando um novo tipo de organização urbano que não se encontra presente em cidades mais antigas.
O facto da Polónia ainda ter a sua própria moeda ajuda também a manter o país estabilizado durante as oscilações da moeda europeia.
As pessoas são bastante simpáticas e amigáveis, sempre prontas a ajudar em caso de necessidade, sendo este um dos pontos que mais aprecio na Polónia.

7 – Foi difícil a adaptação a um novo país, a uma nova forma de estar na vida e no trabalho?

Em geral, não tive qualquer dificuldade de adaptação. Os polacos são um povo que funciona de forma muito semelhante ao povo português em todos os aspetos. Definitivamente dois dos pontos que mais aprecio aqui são o facto das pessoas darem bastante importância ao convivio entre amigos e familiares, quer seja em casa, num bar ou discoteca, ou mesmo em viagens. Outro ponto é o facto das pessoas começarem o dia muito mais cedo relativamente aos portugueses, tipicamente o dia de trabalho começa entre as 7:00 e as 9:00, a hora de almoço não ultrapassa os 30 minutos e entre as 15:00 e as 17:00 as pessoas regressam a casa. É muito comum numa cidade como Cracóvia, ir ao centro em qualquer dia da semana por volta das 18:00 e ver a praça principal cheia de pessoas.

8 – Tem alguma experiência caricata que nos possa contar sobre a sua mudança para o estrangeiro?

Em geral todas as experiências caricatas que me recordo neste momento envolvem a lingua polaca e a minha incrivel capacidade de perceber quase nada dela. Lembro-me de inumeras situações em que falo português e pronuncio a palavra “curva”, sendo imediatamente bombardeado por olhares desiludidos vindo de pessoas idosas a passar ao meu lado, pensando o que vai ser do futuro se os jovens de hoje são todos malcriados.

Contam-se também as vezes que os polacos tentam ensinar-me alguma palavra, que eu mais tarde repito, orgulhoso do que aprendi, a amigos meus, que se riem por eu ter chamado “gado” a uma cafeteira elétrica.

9 – Com que frequência vem a Portugal?

Em geral tento ir a Portugal pelo menos 2 vezes por ano. Uma no inverno e outra no verão. Por vezes é dificil gerir estas viagens com os feriados como o Natal ou a Páscoa, já que as companhias aéreas tentam ganhar os seus tostões também nessas alturas.
Este último Natal e esta Páscoa foi passada na Polónia, com uma grande amiga minha e a sua familia em Zgierz.

Se é complicado passar estas alturas sem a família e os amigos de Portugal? É, mas também é bom ficar totalmente envolvido na cultura e na forma como estas alturas são passadas num outro país. É defenitivamente uma experiência gratificante.

10 – Do ponto de vista de uma pessoa que esta empregada na Polónia, o que e que o nosso país tem de errado?

Uma das coisas que acho errado em Portugal, enquanto pessoa que terminou o seu percurso académico é o facto de Portugal não aproveitar as fontes de potencialidade e de inovação que saem das instituições de ensino superior, fazendo com que estas pessoas caiam no desespero e acabem por perder as suas capacidades, ou que simplesmentem façam o mesmo que eu acabei por fazer, e saiam de Portugal para procurar uma melhor oportunidade de vida no estrangeiro.

11 – O que aconselha aos portugueses que vivem em Portugal e encontram-se desempregados?

Nos dias de hoje, no meu ver aprendi que, de todos os pontos a ter em conta em pessoas que se encontram à procura de emprego, os mais importantes a ter sempre debaixo da manga são sem dúvida: conhecimento de linguas, para trabalhar no estrangeiro quanto mais melhor; experiencia, mesmo que esta provenha de estágios; certificados na área; um curriculo personalizado e excepcional, neste último não me refiro apenas a conteúdos, mas sim a fazer o documento com gosto e profissionalismo, de forma a evitar aqueles CVs que são todos iguais para qualquer lado que se destinem; e finalmente motivação e força para dar o passo!
Para qualquer lado que forem, existem sempre portugueses dispostos a ajudar-vos, procurem nas redes sociais, pois é uma forma bastante rápida de colocarem as vossas questões e obterem respostas.  Para qualquer questão, podem contactar-me pelo email: vascojdb@gmail.com