Mundo a preto e branco, crónica por Rita Damásio
Um mundo de emoções, sensações e interpretações.
Sempre tive o sonho de salvar alguém. Quando era pequenina achava que podia escolher uma profissão que me permitisse fazê-lo. Pensei ser activista dos direitos humanos, assistente social ou enfermeira.
Ao crescer vi que o mundo não é a preto e branco como eu imaginava e receei não saber tomar a melhores decisões nas encruzilhadas. Se errasse não saberia perdoar-me e não seria feliz se as coisas não acabassem como idealizei. Desta forma percebi a responsabilidade que estas profissões significavam para mim.
Então decidi que iria trabalhar em algo mais “fútil” e teria de arranjar outra forma de salvar o “mundo”.
E assim, perdida na vida, os anos foram passando. E com eles pensei que a minha fantasia tinha desaparecido.
Até que um dia me apercebi que não, apenas tinha sofrido algumas mutações. O meu conceito de salvar alguém já não passava por resgatar um gatinho do cimo de uma árvore, receber uma bala no lugar de alguém ou salvar uma criança num terramoto.
Essa minha vontade tinha adquirido um aspecto mais romântico, e mais obstinado.
Quero salvar alguém de si próprio!
Sejam quais forem os seus pecados quero absorvê-los para mim como uma esponja e espremê-los até que que não lhe reste uma pinga. Quero depurá-los em mim em troca de lealdade. Quero ser a bóia de salvação de alguém e tornar-me o motor que o move.
Sonho mudar a vida de alguém para que a minha não seja mais a mesma. Para que não seja apenas a minha.
Em troca de absolvição pretendo “apenas” ser o mundo de alguém.
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