João Figueiredo: o gestor que passou pela base da pirâmide
A distinção de João Figueiredo como melhor ‘CEO’ do sector financeiro em África prendeu a atenção de todo o sector económico-financeiro no continente Africano e no mundo. Em apenas um ano e meio de actividade, o Banco Único passou de 18º para o 6º maior banco a operar em Moçambique. Liderado por João Figueiredo e contando com accionistas portugueses e moçambicanos de referência, o Banco Único conseguiu, desde a sua abertura, triplicar o seu número de balcões e posicionar-se entre os maiores bancos a actuar em Moçambique.
O Emprego Pelo Mundo quis ficar a conhecer melhor este Gestor de sucesso e partilhar com os Portugueses o que faz dele Único.
Chegar aqui foi, antes de mais, um processo. E desde logo um processo que começa com uma infância marcante e vivida com muita alegria no seio de uma família que preza e transmitiu valores que acompanham o gestor pela vida fora.
João Figueiredo cresceu no seio de uma família que desde muito cedo lhe transmitiu valores de honestidade e fraternidade. Depois, há todo um percurso escolar e académico que procurou fazer sempre com o maior sentido de responsabilidade. João Figueiredo pode muito bem não ter sido o melhor aluno da turma, mas andou seguramente sempre na linha do esforço dos melhores. Habituou-se muito cedo a perceber que a diferença se faria com trabalho e no detalhe. Em casa vivia o exemplo de um Pai lutador a quem a vida sorria na mediada do seu esforço e do seu desempenho. O mote é simples: Para ganhar, era preciso apostar na diferença, era preciso trabalhar.
Quando ingressou na Universidade…”os tempos eram difíceis para a minha família, e tive que procurar um emprego por forma contribuir, ainda que com pouco, para o rendimento familiar. Fi-lo com toda a determinação e sem qualquer contrariedade, não obstante esse ter sido o momento do meu primeiro divórcio com a minha geração do Liceu, já que os meus companheiros continuaram, na sua grande maioria, os estudos no período diurno e mantiveram o estatuto de Estudantes como profissão.”
Ingressou no Banco Totta & Açores e em simultâneo iniciou o curso no Instituo Superior de Economia (ISE) na Universidade Técnica de Lisboa. No Banco, assumiu o lugar de administrativo polivalente, o que na altura, significava iniciar uma carreira pela base da pirâmide.
“Recordo-me que no início, parecia-me que teria pela frente uma carreira infindável se quisesse chegar ao topo da mesma. Hesitei, e interroguei-me muitas vezes, se não seria mais fácil começar a profissão logo por cima assim que terminasse o meu curso. Hoje posso assegurar-vos que não há nada melhor do que conhecer a base, para um dia, de um lugar de topo, poder compreender toda estrutura da nossa Organização. Julgo mesmo que todo o Administrador de uma Empresa, CEO ou Chairman, deveria sempre, nem que fosse por um dia, viver a realidade de base da sua empresa por forma a poder perceber a sua essência.”
Talhado de fortes determinações e ideias bem definidas, João Figueiredo partilhou com o EPM que a sua vida foi uma luta. Na faculdade procurando apreender as matérias e no Banco lutando para se distinguir no trabalho. E assim foi
pautando a sua vida, “procurando fazer do esforço, da dedicação e empenho os meus atributos ao que aliava uma sede inesgotável pela aquisição de conhecimentos”. O nosso entrevistado ironiza ainda que “quando alguns amigos me acariciam com o argumento que tenho sido um Homem bafejado pela sorte, tenho por hábito responder que, em parte, até é capaz de ser verdade, mas a sorte dá muito trabalho a alcança-la! Portanto, quando me pergunta como foi chegar aqui, a minha reposta é que foi um processo, e um processo com muito trabalho e vontade de aprender.“
Confira a seguir o que conversámos com João Figueiredo.
QUAL É A SUA OBRA?
Não creio que esteja em condições de dizer que esta ou aquela acção foram em concreto aquela que apontaria como “A minha Obra”. Habituei-me ao longo da vida, e já la vão 33 anos como profissional da Banca, a colocar toda a minha capacidade e a minha dedicação em cada momento, em cada fase da minha carreira. Ao longo desta carreira inúmeros foram os desafios que fui enfrentando. Desde a “navegação” em aguas culturais que não eram propriamente as minhas, já que a vida me reservou esta fantástica oportunidade de trabalhar em vários pontos do Globo, até ao de liderar uma fusão ente dois dos maiores bancos de um país como Moçambique.
Pelo caminho tive a oportunidade de ter uma passagem pela capital do Mundo financeiro, já que na década de 90 estive durante cerca de 2 anos na gestão de uma sucursal de um banco português em Londres e mais recentemente estou naquilo que é o meu desafio de momento o Banco Único – uma criação minha e de uma equipa de Gestores que aliados a um Grupo de fortes investidores, de onde destacaria o Grupo Amorim, a Visabeira e alguns investidores moçambicanos, constitui-se em menos de 18 meses numa operação de referência no mercado bancário nacional e tem atraído a atenção da opinião publica internacional da especialidade.
ACHA QUE SE DEVE PROMOVER O MÉRITO NAS EMPRESAS?
Em toda a minha carreira como gestor, sempre promovi a MERITOCRACIA como linha de conduta das Instituições por onde passei. Na realidade ambiental onde as empresas movimentam hoje a actividade, a competitividade é um factor critico ao sucesso. Assim sendo, haverá que dinamizar uma lógica de performance dos diferentes factores de operacionalidade da empresa e, sem margem para dúvida, que neste exercício um dos “Key point” é o elemento Recursos Humanos.
Ora os Recursos Humanos, constituem um factor diferenciador das Organizações já que na sua essência devem ser entendidos como uma fonte inesgotável de contributo ao processo de optimização empresarial, como consequência de ser sempre possível melhorar o equilíbrio dos planos emocional e racional.
O mérito está muito ligado à forma como usando os meios disponíveis na Organização e a formação profissional que lhe foi concedida, o nosso Profissional, dominando os processos da sua actividade, coloca o seu empenho pessoal na obtenção de resultados.
Não acredito no sucesso das Organizações sem a institucionalização de mecanismos de progressão de carreiras que fundamentem a sua essência na premiação do mérito.
QUE VALOR ATRIBUI À CAPTAÇÃO DE JOVENS TALENTOS PARA INTEGRAR AS EQUIPAS DE TRABALHO?
Os jovens, são o futuro de qualquer sociedade.
Em Julho deste ano de 2013, Sua Santidade o Papa Francisco chegando ao Brasil, na sua primeira digressão desde que assumiu o Santo Pontifício, numa palavra de carinho e estimulo aos jovens, afirmou:
“… a Juventude tem a janela por onde o futuro entrará no Mundo…”
Em boa verdade, qualquer organização deve viver de um equilíbrio entre a experiencia e a maturidade dos mais velhos e a vivacidade, energia e vontade de inovar dos mais jovens. Em todas as Organizações por onde tenho passado tenho promovido este equilíbrio e aos jovens têm sido reservado um papel muito especial de dinamizadores do futuro da Organização.
QUAL É A SUA IDEIA DA CLASSE EMPRESARIAL PORTUGUESA?
Tenho a ideia que se tem de qualquer outra classe empresarial em qualquer lado do mundo, ou seja não se pode falar de uma homogeneidade da classe empresarial portuguesa. Ela é naturalmente dispare e não se enquadra numa linha padrão coerente. É possível encontrar no empresariado português um pouco de tudo. Desde os empresários verdadeiramente empreendedores, ou seja os verdadeiros “fazedores de Obras”, aos meros oportunistas de negócios, que em pouco acrescentam valor às organizações e á sociedade em geral.
A crise arreliante que Portugal tem vivido e a conjuntura internacional pouco favorável a soluções extraordinárias que nos habituamos noutros tempos – muitas vezes funcionando como antídotos para aspectos conjunturais mas que não sanavam em termos da profunda raiz os elementos estruturantes que os originavam – podem constituir uma “peneira” definitiva num processo natural de selectividade da “espécie” que, espero, venha a consagrar os verdadeiros empresários com espirito de iniciativa e de criação de valor.
É uma questão de capacidade por um lado e de miopia por outro.
Capacidade, já que a necessidade de racionalização de novos postos de trabalho nas empresas e a geração de índices de produtividade compatíveis com os índices de competitividade internacional são imposições emergentes do mercado global, ao qual todos estamos expostos.
Mas por vezes, o tema não é apenas de capacidade, é o de miopia empresarial, já que muitas destas empresas não vislumbram na força e na energia dos novos talentos uma factor diferenciador à geração de novos ciclos, novos produtos e novos processos num mundo empresarial cuja a mudança é uma variável determinante.
COMO É QUE UM HOMEM DE PRINCÍPIOS E VALORES CRISTÃOS OBSERVA A ATUAL CRISE EUROPEIA?
Com a preocupação que a doutrina cristã nos ensina. Com a preocupação de quem vê um mundo cada vez menos solidário e uma dinâmica económica cada vez mais enraizada em fundamentos da geração de mais-valias para o capital e menos preocupações do plano social.
A actual crise, tenho para mim, só será ultrapassável, se o modelo de desenvolvimento, assumir uma raiz de natureza muito mais social. É evidente que a recuperação da economia mundial passa pela geração de maior emprego e de um crescimento ao nível dos índices de produtividade, o que à partida para os mais desatentos poderá significar uma contradição.
Contudo, estamos perante um novo paradigma que torna vital que recuperemos e recriemos o equilíbrio do mundo colocando o SER HUMANO no centro da equação. As empresas, as Organizações e as Instituições são importantes sim, mas na medida em que sejam ao serviço da Humanidade. A geração de riqueza pela geração de riqueza sem o factor inclusivo da sociedade na sua generalidade, é um processo que conduz à decadência e ao “non sense” da sociedade.
Registo assim, a necessidade de se criar um modelo económico de desenvolvimento que seja mais solidário e em que a riqueza do mundo seja colocada ao serviço da melhoria das condições de vida das populações mais carenciadas e desfavorecidas da Terra.
QUE SIGNIFICADO TIVERAM NA SUA VIDA AS VIVÊNCIAS PELO MUNDO ONDE TRABALHOU?
Foram, antes de tudo, bastante enriquecedoras para mim e para toda a minha família. Tive a oportunidade de ter trabalhado e vivido em vários continentes e países do Mundo. Não tanto pelo factor geografia, ( e confesso que me encantou ter tido essa oportunidade de conhecer outros locais deste Globo), mas esta realidade, a de ter vivido em vários cantinhos do mundo, fundamentalmente pela vivência com outras “gentes” foi de uma enorme riqueza para nós.
Trabalhei em diferentes Instituições e culturas Organizacionais distintas. Em todas elas procurei beber as suas raízes e entender os seus fundamentos. Identifiquei-me com todas elas, umas mais do que outras como é natural, mas com todas procurei aprender com os que já la estavam e contribuir com a minha entrega para o cumprimento dos Objectivos traçados. Tenho o grato prazer de poder dizer que nunca tive que trabalhar numa instituição com a qual não me identificava com os seus Princípios e Objectivos. Numa dada ocasião da minha vida, num caso ímpar e muito concreto, quando os Accionistas da Instituição que eu geria pretenderam proceder a uma viragem da Estratégia da empresa, orientando-a para um rumo com o qual eu não concordava, demiti-me e fui á procura de novos desafios.
O QUE O FASCINA EM MOÇAMBIQUE?
Tudo me fascina em Moçambique. Da geografia ao seu clima tudo me encanta. Mas é nas suas “gentes” que a minha paixão reside. Moçambique tem a graça de ter um povo encantador, acolhedor e de uma simplicidade que chega a ser intrigante de tanta humildade que irradia. Um Povo que apesar de muito sofrido pelas guerras que viveu e por uma economia ainda muito pouco inclusiva, nunca deixa de ter um sorriso fraterno simples e carinhoso para com todos. Um povo que sorri à esperança que o amanhã promete nascer. Um povo trabalhador e merecedor desse amanha melhor.
Em Moçambique a vida vive-se. Em Moçambique aprendemos a compartilhar a alegria e a desfrutar do prazer de se estar em sociedade. Aqui se aprende com o povo, que o respeito pelos mais Velhos não é um valor em desuso um comportamento em decadência. Aqui o valor da FAMILIA permanece forte e emerge como o elemento de base e central da sociedade.
Moçambique é, todo ele, um sonho que vale a pena viver.
ACONSELHA OS JOVENS PORTUGUESES A EMIGRAREM PARA ÁFRICA?
Não serei a pessoa mais indicada para falar do fenómeno de emigração dos jovens portugueses, porque não vivendo há muitos anos em Portugal tenho alguma dificuldade em fazer análises que contemporizem apreciações de valores da actual sociedade no país.
O emigrante de hoje não emigra com o sentido de regressar a casa. O emigrante de hoje assume muito mais o papel de alguém que procurou um novo destino para viver a sua vida. Um novo destino para onde se muda de “armas e bagagens”.
Neste contexto, o emigrante de hoje tem que ser capaz de se envolver de forma positiva na vida do país que o acolhe, de compreender a cultura onde vai estar inserido – observá-la, respeita-la e vive-la – e procurar esta em comunhão de valores com essa sociedade.
O QUE VÊ E O QUE SENTE QUANDO OLHA PARA PORTUGAL?
Sinto um enorme carinho e um grande sentimento de gratidão.
Portugal é um país que me acolheu com tanto carinho que jamais serei capaz de poder retribuir o enorme respeito e gratidão que nutro por esse cantinho na Europa. Em Portugal sinto-me em casa, sinto-me em familia.
Em Portugal terminei os meus estudos e iniciei a minha carreira profissional. Em Portugal vivi grande parte da minha juventude e conheci muitos dos meus grandes amigos. Em Portugal tenho ainda grande parte da minha família a residir. Portanto Portugal reside no meu coração para sempre. Tenho esta enorme felicidade e a liberdade de poder dizer que sou um Goês de Origem com dois grandes amores a quem serei sempre fiel: Portugal e Moçambique!
O gestor deixa aos jovens apenas uma palavra de esperança e de grande crença. Acredita que a juventude tem uma palavra a dizer no que concerne ao futuro não só do País como da humanidade em geral.
A juventude tem uma energia muito própria que faz dela o centro das grandes mudanças do Mundo. É nela que se depositam todas as esperanças. É nela, eu acredito, que está a chave do Futuro do Mundo.