Erasmus: “Obrigares-te a experimentar e tentares compreender”
Pedro de Matos, 22 anos, é estudante em Engenharia Mecânica na Universidade do Minho. Em 2014 decidiu fazer intercâmbio escolar ao abrigo do programa Erasmus. A Technical University of Liberec, na República Checa, não foi a sua primeira opção, mas nem por isso a experiência deixa de ser única e inesquecível.
Pedro, natural de Braga, admite que o processo de adaptação a um novo país tem sempre uma parte difícil. Conta-nos: “É como tudo na vida, sais da tua zona de conforto e tudo se complica. O importante é encarar tudo com muito calma e manter-nos receptíveis. Erasmus é uma experiência em que lidas todos os dias com pessoas de culturas e línguas diferentes. Começas a perceber que a tua realidade nem sempre é igual à dos outros.”
O jovem estudante destaca a multiculturalidade como o ponto forte de Erasmus e, ao lidar com pessoas de todo mundo, é imprescindível uma adaptação ao ambiente em que se está a viver, que no caso de Pedro é a República Checa.
República Checa: “Tudo é diferente em relação a Portugal”
Aqui a barreira linguística é difícil de ser ultrapassada, uma vez que são poucas as pessoas que falam inglês, mas Pedro admite que é sempre possível alcançar o que se quer. “Recordo-me de uma situação em que fui carregar o telemóvel e a senhora que me atendeu não sabia falar inglês e eu só sabia dizer palermices em checo. No fim, depois de uma tentativa de falar (um pouco ridícula), acabei por sair da loja com o meu telemóvel carregado. É um exercício engraçado”, conta entre risos ao Emprego pelo Mundo.
Além da barreira linguística, Pedro realça ainda como dificuldades a própria rotina do país, que é muito “diferente da portuguesa, começando pelo simples facto de os dias serem mais curtos”.
A República Checa valoriza fortemente os produtos nacionais, evitando um mercado internacional. Pedro realça que isso acaba por ser negativo uma vez que “quando querem andar num Mercedes, os checos são direcionados economicamente a andar de Skoda, por exemplo”.
Os costumes do país são diferentes dos de Portugal. “Contudo, com o tempo e a experiência que se ganha, a sensação de estar perdido vai desaparecendo e começas a ganhar hábitos que não praticavas, como a pontualidade”, adianta.
Além disso, “a barreira geográfica em relação a Portugal também é difícil de suportar, não só pela saudade, mas pelo sentimento de impotência quando alguma coisa de grave pode acontecer e estás demasiado longe para fazer alguma coisa”, acrescenta. Em relação ao nível de exigência de ensino, Pedro afirma que é “mais benevolente”. Não que seja menos exigente, mas tentam compreender os diferentes ambientes institucionais.
Erasmus facilita acesso ao mercado de trabalho, mas não só
Segundo uma avaliação ao programa divulgada no passado mês de setembro em Bruxelas, os jovens que estudam ou recebem formação no estrangeiro, através do programa Erasmus, têm mais facilidade em arranjar emprego do que os outros. A avaliação ao programa revela que a possibilidade de os estudantes Erasmus sofrerem uma situação de desemprego de longa duração é 50% menor em relação àqueles que não estudaram ou obtiveram uma formação no estrangeiro.
O jovem estudante acredita que com uma experiência deste género ganham-se competências transversais que são importantes e que hoje em dia marcam a diferença. “Quando fazes Erasmus és obrigado a lidar com diferentes tipos de pessoas e como, hoje em dia, o trabalho em equipa é uma exigência do mercado laboral sentes-te mais apto a conseguir fazê-lo”, realça o próprio.
Pedro adianta ainda como vantagem o facto de “não poder contar com ninguém, no sentido que és obrigado a fazer tudo por ti pela primeira vez, outra vez. Acima de tudo, relativizas mais os teus problemas”.
Pedro aponta ainda a possibilidade de viajar muito e conhecer novos países. Conta-nos: “A última viagem que fiz, sendo provavelmente a mais “chocante” em termos históricos, foi a visita ao campo de concentração de Auschwitz. Uma coisa é ver em letras, outra coisa é ver à nossa escala. Em Budapeste, por exemplo, as carruagens são da URSS. Aqui é percetível que aqueles países têm uma história recente e, por serem recentes, evidencia-se a sua falta de identidade, porque esta continua muito presa ao que era a antiga-União Soviética”.
Outra desenvoltura que Erasmus proporciona é a capacidade de comunicação e socialização. “Ultrapassas mais facilmente qualquer tipo de problema, uma vez que durante essa experiência obrigas-te a desenrascar porque todos os dias acontecem situações que não esperas, que te levam a novas experiências, em que, durante ou no fim, acabas sempre por te rir”, adianta Pedro.
As relações transnacionais
O estudo referido atrás considera ainda ser mais provável que os antigos estudantes Erasmus mantenham relações transnacionais: 33% destes estudantes têm um parceiro de nacionalidade diferente, em comparação com apenas 13% dos estudantes que ficam no seu país durante os estudos.
Segundo o inquérito, 27% dos estudantes Erasmus conhecem o seu parceiro mais duradouro durante o intercâmbio e, com base nestes dados, a Comissão Europeia “estima que cerca de um milhão de bebés tenha nascido de casais Erasmus desde 1987”. Contudo, Pedro não tenciona fazer parte da estatística “até porque a minha mãe, expressamente, me proibiu”, acrescenta entre risos.
Pedro deixa ainda alguns conselhos a quem queira estudar no estrangeiro:
“Obrigares-te a experimentar e tentares compreender, porque no fim de cada experiência, seja ela boa ou má acabas sempre por te sentir bem. Há sempre uma lição a retirar. E não incendiar a casa, também é uma boa dica”.