Kathy Carriço – Dubai, E.A.U.
Kathy Carriço – Dubai, E.A.U.
1 – Gostaria de saber a sua idade, naturalidade e percurso académico.
Olá, sou a Kathy, tenho 34 anos, já pertinho dos 35, nasci em França e licenciei-me em Comércio Internacional na Sorbonne Nouvelle, Paris. Mal acabei o curso, enchi o meu carrito com as minhas coisitas e rumei a Portugal, Leiria. Aí continuei a formação em diversas áreas complementando a minha formação inicial, Marketing, Relações Públicas, Publicidade, e também formação de carácter mais pessoal, quando tirei uma pós-graduação em psicologia criminal.
2 – Desde quando vive no Dubai e por que decidiu ir?
Estou no Dubai há 2 anos e meio e surgiu como uma “loucura do momento”, ou seja, tinha um emprego estável em Portugal, numa empresa razoavelmente boa, no entanto, sentia que pessoal e profissionalmente estava a estagnar e que a evolução que gostaria de ter, era quase impossivel acontecer ficando lá. Assim quando me perguntaram se queria tentar uma experiência nova no Dubai, não hesitei e passados uns dias, rescindi contrato com a empresa para a qual trabalhava havia quase 9 anos, arrumei as malas, arrendei o meu apartamento e fui apanhar o avião.
3 – Foi sempre seu desejo viver/trabalhar fora de Portugal ou tratou-se de uma necessidade?
A minha intenção era, e continua a ser, viver em Portugal, um modo de vida com o qual sempre me identifiquei. E a minha experiência no Dubai, não passa disso mesmo, uma experiência. Embora hoje, esteja a ponderar estender a aventura por mais uns tempos, o objectivo será sempre, regressar a casa.
4 – Conhecia alguém no Dubai que tenha ajudado na sua integração?
Ao invés da minha primeira mudança, a de França para Portugal, em que fui sozinha e com muito poucos amigos
lá para me ajudar na integração (tenho a agradecer ao Ricardo, ao Telmo, a Joana, a Geni), a minha mudança para o Dubai foi facilitada pelo facto de ir com o meu namorado. Tudo se torna mais fácil, quando temos alguém para partilhar as incertezas e as experiências, e fomos aprendendo os dois a integrar-nos neste pais fantástico.
5 – Foi difícil a adaptação a um novo país, a uma nova forma de estar na vida e no trabalho?
Não posso qualificar de facil ou dificil a adaptação a este pais, por serem tantas as variáveis… Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, é uma cidade muito cosmopolita, onde 80% da população é expatriada, então a vida na Cidade é muito virada para o expatriado e para o exterior em geral (turismo). A pesar de ser um país de cultura árabe, as liberdades individuais são muito parecidas ás que conhecemos na Europa, mas se isto é a realidade do Dubai, não se pode dizer o mesmo dos outros emirados vizinhos muito mais tradicionais. O deasafio principal é entender os diversos sotaques de inglês que nos aparecem, de indianos, paquistaneses, filipinos, franceses, ingleses, australianos,… e com isso, aprender também a lidar com culturas e maneiras de ser e estar diferentes, a religião, a maneira de conduzir, a maneira de trabalhar, de lidar com horários,… Acho que pelo facto de sermos “todos” estrangeiros, longe das nossas raízes, existe uma cohabitação mais compreensiva, e isso será o elemento facilitador. Enquanto que a adaptação ao calor extremo ou ás regras impostas durante o Ramadão, serão os elementos menos favoráveis. Durante o Ramadão, o muçulmano, não come, nem bebe durante as horas do dia, e nesses dias, ninguém pode comer em público, beber em público, dancar em público, fumar em público até o sol se pôr. Mas é só durante um mês, e os prós compensam os contras. O outro senão que me deixará sempre um sentimento de inacabado, é o facto dos Emiratis serem pessoas muito pouco viradas para o “exterior”, ficam muito entre si e não abrem as portas aos expatriados com facilidade, acho que ser convidada a tomar um chá em casa de um Emirati tería completado a minha experiencia cá.
6 – Que visão tinha da vida dos emigrantes antes de partir para o Dubai e que visão tem agora?
A vida do emigrante é um tema que comento muita vez. Acho que somos uma geração de emigrantes sortuda. Eu cresci a ouvir as histórias dos meus avós, que emigraram para França nos anos 60 em que a necessidade era quase vital, ao ponto que se sujeitavam a condições de vida muito rudimentares, lembro-me do meu pai me contar que quando chegaram a França, foram viver com um irmão do meu avô e a sua familia, num apartamento minusculo com um só quarto.
Quando vim para o Dubai, lembrei-me disso tudo. Eu escolhi vir, porque queria viver uma aventura, vim viver para um T1 maior que o meu em Leiria, num predio com seguranca 24h por dia, 7 dias por semanas, com sauna, banho turco, jacuzzi, ginasio e piscina, e dei-me “ao luxo” de escolher entre várias propostas de trabalho. Sei que há quem emigre por necessidade, no entanto, pelo que vivo, e pelo que vejo, a nossa geração não se sujeitaria nunca ao que se sujeitaram os nossos antepassados, e não acho que seja errado.
Ainda bem que temos outra qualidade de vida que aquela que tinham os nossos avós no tempo do Salazar, ainda bem que temos uma vida de maior qualidade e de maior exigência. Simplesmente, a emigração é diferente. Da minha experiência, a minha “emigração” trouxe-me e traz-me tanto: estou a aprender a falar árabe, viajei imenso, voltei a sentir estimulação profissional, saltei de paraquedas e aprendi a fazer snorkeling…
7 – Vai continuar a viver no Dubai? Gostaria de trabalhar/viver noutro país? Qual? Porquê?
Na verdade, a experiência Dubai estará a acabar, ou pelo menos a entrar em stand-by. Neste momento, a ideia é ir passar o verão a Portugal, recarregar as baterias lusas. E porque chegou a necessidade de vivenciar momentos priviligiados com a familia e os amigos, irei entregar a minha carta de rescisão a meados do ano. E no fim do verão, fazer-se-á a avaliação de propostas, desejos de outras aventuras e veremos onde o vento me levará. No Dubai, conseguirei arranjar trabalho de novo, mas confesso que se calhar estaria mais inclinada para um projecto diferente, Singapura, Brasil ou Estados Unidos…. o futuro o dirá.
8 – Com que frequência vai para Portugal e o que pensa da situação económica do país?
Tenho a sorte de conseguir ir a França e a Portugal com alguma frequência, embora o ano 2012 foi mais dedicado a passeios pela Ásia, fui a Portugal 2 vezes. Acompanho diariamente a situação socio-económica de Portugal, mas raramente comento, ate porque nao sei se tenho o direito de comentar algo que escolhi deixar; no entanto, e ja que faz parte dos objectivos desta entrevista, confesso que a situação que se vive em Portugal me preocupa mais numa perspectiva social do que económica. E claro que a situação económica se degradou nos últimos anos, mas acho que se calhar, por tradição, o povo portugues tende a adaptar-se, o que e uma característica excelente em algumas situações, mas que não o será noutras, quero referir-me as desigualdades abismais de vencimentos por exemplo, ou se calhar a prática corrente do factor C(unha). Mas até isso nos está nos genes e na alma, ou não
seríamos nós, o povo da Saudade, palavra temida por muitos tradutores que significa muito mais do que palavras possam expressar.
O meu desejo hoje, é que a marca deixada pela minha geração de emigração seja semelhante à marca que deixaram os nossos avós onde emigraram, uma marca de dedicação, seriedade, profissionalismo e educação.