Nelson Vidal: a vida de um arquiteto paisagista em Cuenca
Nelson Vidal tem 27 anos e é Mestre em Arquitetura Paisagista, pela Faculdade de Ciências da Universidade do Porto. Desde os 17 anos já abraçou diversos desafios, nas mais variadas profissões, mas foi no último ano que o jovem, natural de Gondomar, Porto, enfrentou o maior deles: viver e trabalhar em Cuenca, no Equador.
Trabalhar no estrangeiro sempre foi uma possibilidade, já que, segundo o jovem, apesar de muita determinação, “em Portugal não seria possível trabalhar na área”. Em conversa com o Emprego pelo mundo, o arquiteto contou que antes de ir para o Equador “estava parado”. Tentou fazer um curso de Empreendedorismo, na tentativa de lançar o seu próprio negócio, mas a ideia revelou-se “impraticável”.
“Depois de terminar a mestrado e após uma reflexão, percebi que em Portugal não teria emprego no que gosto de fazer. A minha profissão depende de vários fatores, como o investimento público, uma economia produtiva que permita a capacidade para o investimento privado”.
“Ha opções que são condicionadas pela falta de outras opções e esta foi uma delas”, confessa e explica: “depois de terminar a mestrado e após uma reflexão, percebi que em Portugal não teria emprego no que gosto de fazer. A minha profissão depende de vários fatores, como o investimento público, uma economia produtiva que permita a capacidade para o investimento privado, a abertura de empresas com viabilidade na arquitetura paisagista e a consciencialização dos agentes decisores (refiro-me, por exemplo, à necessidade de arquitetos paisagistas nas câmaras municipais)”.
Em 2014, após responder a um anúncio de emprego na Internet, enviou o CV e Portfólio e não tardou em ser contactado. “Fiz uma entrevista via Skype e um pequeno projeto, para comprovar as competências e acabei por ser selecionado”, recorda. Atualmente, assume funções na área com que sempre sonhou, num Atelier de Planificação Urbana e Ambiental.
Viver e trabalhar em Cuenca: oportunidades, salários e nível de vida
À semelhança de milhares de jovens qualificados, Nelson Vidal não hesitou em agarrar a oportunidade de desenvolver uma carreia na sua área profissional. No entanto, aceitar um emprego no estrangeiro implicou deixar para trás a família, os amigos, a namorada e outros projetos em que estava envolvido. O que o esperava no Equador?
“Para quem tem uma profissão qualificada, as condições de trabalho são boas e os ordenados suficientes para fazer face aos custos e manter uma boa qualidade de vida”.
No mercado de trabalho, “para quem tem uma profissão qualificada, as condições de trabalho são boas e os ordenados suficientes para fazer face aos custos e manter uma boa qualidade de vida”, começa por esclarecer o jovem arquiteto. “Eu tenho uma qualidade de vida que considero bastante aceitável, mas reconheço que sou um pouco privilegiado”, comenta. “Para as pessoas que vivem nas áreas rurais é muito mais complicado, pois para algumas o salário mínimo (que ronda dos 320$) ainda é uma miragem. Nas cidades, os trabalhadores sem formação ganham entre os 300$ e os 500$. Permite viver, mas sem grandes regalias”, remata.
Nelson destaca desta experiência no Equador “a tranquilidade com que se leva a vida, sem muito stress e com muita alma” e ainda “a liberdade e multidisciplinaridade no trabalho”. De acordo com o arquiteto, como há poucos paisagistas equatorianos, possui a oportunidade de “trabalhar em várias coisas ao mesmo tempo”, assim como “a liberdade de criar, de desenhar sem grandes condicionantes”.
No lado negativo, existe, segundo o jovem, uma desorganização que carateriza Cuenca, com “os prazos e requisitos burocráticos que mudam um pouco todos os dias”, dificultando o processo de tratar de qualquer assunto num organismo público. A solidão sentida por quem se aventura num novo território, social e culturalmente distante, é também um fator negativo apontado por Nelson Vidal, que, até à data desta entrevista, conhecia apenas duas portuguesas na cidade. Recentemente, o jovem informou o Emprego pelo Mundo que conheceu “muitas mais pessoas”, nas quais se incluem mais cinco portugueses, três das quais também arquitetas, contratadas pela empresa em que trabalha.
De resto, pouco mais de dois meses depois da chegada a Cuenca, Nelson confessou ao Emprego pelo Mundo que se sentia adaptado. Se antes “conhecia o Equador sobretudo pelas Ilhas Galapagos e pela equipa de futebol” e “sabia que era um pequeno pais encaixado nos Andes, mas não muito mais do que isto”, hoje, descreve Cuenca como “uma cidade diferente e organizada”, em comparação com Quito (a capital) e Guayaquil, que são um verdadeiro caos para quem acaba de chegar, com imenso trânsito, ruído por toda a cidade e algumas favelas.
“O Equador é um país muito marcado pela influência dos Estados Unidos: os automóveis, os eletrodomésticos, as relações comerciais, a emigração… tudo um pouco”.
“Cuenca é conhecida como a Atenas do Equador, por causa da diversidade cultural. Ao longo das margens dos rios que atravessam a cidade existem vários parques, que proporcionam qualidade de vida surpreendente, do ponto de vista do uso do espaço público”, explica o arquiteto paisagista. “O Equador é um país muito marcado pela influência dos Estados Unidos: os automóveis, os eletrodomésticos, as relações comerciais, a emigração… tudo um pouco”, conta.
“Se o meu país me abrir as portas com uma boa oportunidade, poderei equacionar o regresso, mas para já estou muito bem aqui, onde me vou encontrando profissionalmente”.
Quanto questionado acerca de perspetivas de regresso, responde: “se o meu país me abrir as portas com uma boa oportunidade, poderei equacionar o regresso, mas para já estou muito bem aqui, onde me vou encontrando profissionalmente”. Partindo da sua experiência, este Português pelo Mundo aconselha: “se vierem, tenham a certeza do que vêm fazer e das condições de trabalho. Há muito para fazer e boas oportunidades, mas sempre com cautela”. “Preparem-se para horas intermináveis de viagens pelos andes. Há coisas maravilhosas em cada canto e a 2500m de altitude, estamos permanentemente no céu. É uma aventura, todos os dias”, acrescenta.
Para matar saudades da família e amigos, Nelson utiliza o Skype e as redes sociais e, uma vez ou outra, o telefone. “Estas ferramentas tornam tudo muito fácil”, comenta.