Luís Reis: o médico que acabou como nº 2 na Sonae

O gestor nomeado número dois do império Sonae é um Médico com MBA e Mestrado em Gestão e Doutorado em Ciências Económicas e Empresariais. A Emprego Pelo Mundo esteve à conversa com Luís Reis, um cidadão hiperdedicado à profissão e à família que não larga o estatuto de professor em nenhuma área da sua vida. Confira as suas opiniões sobre o Estado da Nação.
 

EPM: Qual era a sua visão do mundo quando saiu da universidade?

LFR: Era um jovem não muito diferente dos outros. Tirei o curso de medicina mas sempre quis descobrir novas coisas. Tinha uma paixão pela engenharia, pela genética e pela gestão e, por coincidências da vida, acabei por desenvolver o meu percurso profissional numa área muito diferente da formação de base. Durante o meu percurso procurei depois complementar a formação inicial com formações específicas na área da economia e gestão.

Como vê hoje a realidade ao imaginar- se no lugar de um jovem que hoje acaba um curso superior?

A pressão que existe ao nível do emprego torna mais difícil conseguir a primeira oportunidade. É um desafio que obriga os nossos jovens a serem ainda melhores e a aproveitarem essas oportunidades com “unhas e dentes”. Nada se consegue sem trabalho e, hoje em dia, não basta um curso superior para garantir o futuro. A abertura ao mercado global deve estar permanentemente presente bem como a disponibilidade para empreender.

Do lado do empresário quais são as qualidades mais valorizadas no candidato ao emprego para além de uma formação académica adequada ao lugar?

Para além das competências técnicas e profissionais, existe um conjunto de aptidões pessoais que fazem toda a diferença na Sonae. Cada vez mais, valorizamos as designadas soft skills e procuramos um perfil ambicioso, criativo, empreendedor, intelectualmente curioso, flexível e com foco na excelência. A Sonae valoriza jovens com capacidade de liderança, espírito de equipa e garra. Esperamos mentes abertas e espíritos visionários que saibam pensar criativamente. Procuramos sempre adequar perfis a exigências e a média é apenas uma das variáveis tidas em conta, sendo o percurso do candidato analisado face à função em causa.

Quando se deparam com uma oferta excessiva de candidaturas como fazem a seleção dos candidatos?

Em 2010, a Sonae inovou e lançou a Rede Contacto, a primeira rede social em todo o Mundo criada com a missão de encontrar novos e promissores talentos tendo em vista o seu recrutamento (segundo o Corporate Leadership Council). A criação desta plataforma veio permitir uma grande interação entre as empresas Sonae e os candidatos, facilitando o processo de seleção e recrutamento, bem como a sua fiabilidade. A Rede Contacto introduz uma forma alternativa de os jovens universitários demonstrarem o seu potencial, já que possibilita a cada candidato reforçar a sua avaliação com conteúdos que vão para além das notas do seu currículo académico. Há espaço e liberdade para a criatividade. Assim, os jovens estão a ser desafiados a realizar diversas tarefas, desde a realização de trabalhos até ao preenchimento de quizzes. Estes desafios são colocados pelas empresas Sonae e permitem aos participantes acumular pontos para uma classificação que possibilita aceder ao “Dia Contacto”, que reúne a cada edição cerca de 60 jovens de elevado potencial. Os melhores têm a oportunidade de desenvolver os seus conhecimentos e competências numa das empresas Sonae.

Qual e a sensação dos empresários ao verem partir os jovens para o estrangeiro por não poderem realizar os seus projetos de vida no pais?

Creio que todos gostariam que existissem oportunidades em Portugal, em número suficiente, para que os jovens dessem seguimento ao seu percurso académico com a entrada no mercado de trabalho. No entanto, no atual ciclo tal não acontece, o que torna inevitável o que tem vindo a acontecer. No entanto, temos de ver o lado positivo das coisas. Se é verdade que a saída de jovens de potencial para o exterior é penalizadora do País e da economia no curto e médio prazo, caso regressem, vêm com novas experiências que ajudarão a enriquecer o País, saibam os empregadores aproveitar essa mais-valia.

Pensa que é possível reverter esta situação?

No atual ciclo económico é difícil que tal aconteça. Mas acredito que com a recuperação muitos dos que agora partem possam regressar.

Se tivesse de avaliar a justiça social no momento presente como classificaria a actual sociedade?

Creio que estamos numa situação que ninguém deseja, onde o desemprego é um dos principais problemas. É importante que o Estado faça o seu trabalho de casa, permitindo desonerar as empresas e os cidadãos de forma a ser possível regressar ao crescimento económico, à criação de emprego e à geração de riqueza.

Como imagina o desenvolvimento desta situação actual, em que há circulação livre de capitais e mercadorias mas não há circulação livre de pessoas?

O processo de integração europeia precisa de ser aprofundado de modo a garantir a todos os estados membros e os seus cidadãos e empresas beneficiem das mesmas condições no acesso ao mercado de trabalho, a financiamento e a mecanismos de compensação que contribuam para minimizar as desigualdades entre regiões.

Em seu entender que medidas são necessárias para melhorar a economia europeia?

A prioridade no momento atual deve ser fazer o trabalho de casa e preparar o País para o futuro. Mas apesar disso, a nível europeu, o aprofundamento da integração é um movimento que deve ser acelerado e concretizado através uma estratégia conjunta de fomento da economia do espaço europeu. Por exemplo, não se justifica que uma empresa portuguesa tenha condições de acesso ao crédito muito mais caras do que uma empresa alemã ou francesa, pois isso é, à partida, um fator redutor da sua competitividade e da competitividade do País.

Alguns conselhos para os jovens?

Não desistam e continuem a acreditar sobretudo em si próprios mas também em Portugal. Sejam criativos e procurem pensar global e empreender, encontrando respostas inovadoras para os desafios que enfrentam.

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BIO

Luís Reis foi Administrador Executivo e COO da Sonaecom, desde Maio de 2000 e está no Grupo Sonae desde 1989, tendo tido funções em várias das sub-holdings do Grupo. Anteriormente foi membro do Conselho de Administração da Modelo Continente SGPS e Director de Marketing da Sonae Distribuição. Possui igualmente experiência relevante na área de Marketing da Indústria Farmacêutica. Desempenha, presentemente, funções de Chief Corporate Centre Officer da Sonae, com responsabilidades na coordenação das funções da Holding, implementação de processos de organização e mudanças corporativas nas diferentes sub-holdings. A Comunicação, Relações Externas e Institucionais, Relações com Investidores e os Sistemas de Informação fazem também parte do seu pelouro. Paralelamente, é Presidente da APED – Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição e da CSP – Confederação dos Serviços de Portugal, Vice-Presidente da BCSD Portugal (Business Council for Sustainable Development), membro do Conselho do WBCSD e membro do Conselho Geral da AEP (Associação Empresarial de Portugal) e da Universidade de Coimbra. É também docente convidado da Porto Business School e da Faculdade de Economia da Universidade do Porto.