Ana Carvalho – Cabo Verde

Ana Carvalho escolheu Cabo Verde como destino. Licenciada em Ciências da Comunicação pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto, em Setembro de 2014 partiu para Sal Rei (Boa Vista, Cabo Verde) para dirigir uma rádio comunitária.

 Ana, 23 anos, é “uma miúda feliz”. Eterna sonhadora, não tem paciência “para os jogos sociais”. Dirigir uma rádio comunitária afigurou-se uma excelente oportunidade para crescer enquanto pessoa e profissional. Este foi o motivo primordial que a levou à ilha da Boa Vista, onde permaneceu até ao final de abril deste ano.
Em março de 2014 visitou um primo que lá trabalhava há seis anos, através do qual conheceu uma jornalista portuguesa que já morava e trabalhava no país há sete anos que lhe falou da vaga que havia na ilha da Boa Vista. Daí foi só falar com os responsáveis e candidatar-se ao lugar.
Nessa semana que visitou a ilha, percebeu que a realidade cabo-verdiana não é uma só. Cabo Verde tem dez ilhas e cada uma delas tem a sua própria realidade. Mesmo tendo vivido e trabalhado no país, apesar de ter conhecido a realidade económica e política cabo-verdiana, não se atreve a falar de Cabo Verde como um todo.

Quando regressou à ilha da Boa Vista, em setembro, a realidade foi bem diferente: “Desta vez não estava com a minha irmã e não eram férias, mas eu adoro a adrenalina do desconhecido, então correu bem”. Destaca a hospitalidade das pessoas da ilha que a fizeram logo sentir em casa.
Ana tem uma grande admiração pelo povo da ilha da Boa Vista. Explica-nos: “Têm um salário mínimo que ronda os 110 euros e um custo de vida exageradamente alto. As condições de trabalho dependem do empregador, mas o maior problema é que a maioria das pessoas não se sabe defender, então não se levam a sério os contratos de trabalho, as indemnizações, a segurança no trabalho. É uma realidade muito diferente da nossa, mas as pessoas têm uma energia espetacular.”

Para a jornalista, o pior de viver e trabalhar em Cabo Verde foi mesmo “perceber a desigualdade social, a impotência que se sente em querer ajudar as pessoas” e ter um sistema que impede qualquer ajuda. O melhor de viver na ilha foi o estilo de vida simples, a cultura, as praias paradisíacas e as pessoas que conheceu.
“Tu não és nossa, és do mundo”

Ana nunca viu esta ida como “ai vou emigrar”. Viajar sempre foi um sonho e esta foi apenas uma parte do caminho que ainda falta percorrer. Conta-nos: “Ao enfrentares uma realidade extremamente diferente, deparas-te com uma infinidade de novas perspetivas sobre o que nos rodeia. Estava certa, cresci muito, foi a melhor decisão que podia ter tomado.”
Esta experiência deu-lhe ainda mais vontade de conhecer o mundo, de viver noutros contextos e de se conhecer “noutros modos” e caso outra oportunidade surja não pretende desperdiça-la.

Ana tem uma página online, “Expedição Balolas”, onde partilhou todos os momentos da sua aventura. Entre os acontecimentos mais emocionantes destaque este: “foi quando reconheci a voz da minha mãe entre tantas chamadas em crioulo, em direto, no meu turno de emissão da Passagem de Ano na rádio. Foi do outro mundo.”
A jornalista acredita que é fundamental ser-se organizado para se ir viver para outro sítio e tirar-se o melhor proveito. “Temos de estar organizados mentalmente, espiritualmente e fisicamente. E ter muita paciência com as burocracias desde finanças a vistos, porque dão sempre imenso trabalho”. Outro aspeto essencial passa por “fechar ciclos”: “não partir sem estarmos bem resolvidos connosco, com as nossas relações afetivas e com os que nos rodeiam.”