Carla Machado – França – Paris
Carla Machado – França – Paris
1 – Gostaria de saber a sua idade, naturalidade e percurso académico.
Tenho 35 anos, natural da Nazaré. Sou licenciada em Relações Internacionais pela Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra. Terminei a licenciatura em 1999. Decidi regressar aos estudos 10 anos mais tarde e fiz mestrado em Marketing Relacional, na Escola Superior de Tecnologia e Gestão do Instituto Politécnico de Leiria. Terminei em Junho de 2012.
2 – Desde quando vive em Paris e por que decidiu ir?
Cheguei a Paris no dia 29 de Agosto de 2012.
Na bagagem trazia um mundo de incertezas e de dúvidas. O meu namorado já se encontrava em Paris há alguns anos. Sempre pensei que ele voltasse a Portugal para construirmos uma vida em comum, mas finalmente a vida trocou-me as voltas.
Desde sempre que me lembro de achar ser enriquecedora ter uma experiência de vida fora de Portugal.
Em 2011, troquei um emprego numa empresa municipal onde ja estava há 7 anos, por um contrato a termo. Arrisquei. Findo o contrato, terminou o vinculo e considerando a conjuntura do país, as perspectivas de uma aposta geral numa politica de baixos salários e pouca evolução profissional, decidi que tinha chegado o momento”agora ou nunca” para abandonar a minha zona de conforto.
3 – Foi sempre seu desejo viver/trabalhar fora de Portugal ou tratou-se de uma necesidade?
Trata-se de um sentimento misto. Por um lado, acho que se aprende muito. A mudança é sempre positiva, faz-nos passar por novos processos de aprendizagem…uma lingua diferente, uma nova cultura, uma nova forma de estar. Por outro lado, há alturas em que me faz falta o meu país e as minhas gentes, e nesses dias trabalhar fora de Portugal acontece por necessidade, pois não encontro em Portugal uma resposta para um projecto de vida pessoal e profissional motivador e compensador.
4 – Conhecia alguém em França que tenha ajudado na sua integração?
O meu namorado foi fundamental, diria mesmo indispensável para adaptação local. Em termos profissionais, não conhecia ninguem que pudesse dar-me o “empurrão” necessário.
5 – Foi difícil a adaptação a um novo país, a uma nova forma de estar na vida e no trabalho?
Não foi fácil habituar-me a estar longe da familia (ainda que o telefone e o skype funcionem todos os dias). Também não foi fácil habituar-me a uma cidade onde vivem 12 milhões de habitantes e coabitam uma imensidão de culturas, sobretudo quando cresci numa aldeia com pouco mais de 400 habitantes. Em Portugal – Leiria – em 15 minutos fazia o trajecto casa-trabalho. Em Paris demoro hora e meia, no melhor dos cenarios. A questão da deslocação é, sem dúvida, um factor menos positivo.
A habitação na região de Ile-de-France é cara, pelo que trocar uma casa grande por pouco mais de 30 metros quadrados também foi dificil.
Também considero o ritmo de trabalho em Paris, pelo menos no meu caso concreto, mais exigente.
Em tudo o resto a adaptação foi fácil. A comida é optima, a forma de estar das pessoas é muito parecida, a cidade é linda, tem uma oferta cultural invejável e sinto-me a evoluir, a aprender todos os dias, a aperfeiçoar o dominio de uma nova lingua. Tenho a sorte de trabalhar numa equipa multicultural, que integra profissionais de outras nacionalidades (Grecia / Roménia/Italia/Espanha/França) o que tem sido muito motivador.
6 – Que visão tinha da vida dos emigrantes antes de partir para França e que visão tem agora?
Na familia já tinha exemplos de emigrantes, muito embora pertencentes a uma geração diferente. Em todo o caso sempre vi nos emigrantes pessoas de coragem e muito trabalho.
Actualmente tenho ainda mais certezas relativas à coragem, motivação e força de vontade necessárias para enveredar pela emigração.
7 – Vai continuar a viver em França? Gostaria de trabalhar/viver noutro país? Qual?
A curto prazo pretendo continuar em França. Não coloco de todo de parte a possibilidade de mudar para outro país. Uma vez que deixamos a “nossa casa “, a nossa casa passa a ser o mundo. Gostava de ter uma experiência de vida e de trabalho num dos países mais nórdicos, como a Noruega.
8 – Com que frequência vem a Portugal e o que pensa da situação sócio-económica do país?
Tenho ido a Portugal, em média, de 2 em 2 meses.
A situação sócio-economica do país aflige-me. Constato uma degradação diária das condições de vida da população em geral. A subida dos níveis de desemprego é assustadora e não se perspectivam soluções. A crise afectou e continuará afectar seriamente a saúde, a educação, os apoios sociais.
A situação é deveras dramática, o que é de lamentar pois Portugal é um país fantástico para se viver!