Gilberto Queirós – Mutuali, Nampula – Moçambique
Gilberto Queirós – Mutuali, Nampula – Moçambique
1 – Gostaria de saber a sua idade, naturalidade e percurso académico.
Tenho 31 anos, sou natural de Amarante e terminei o bacharelato no ISEP em 2004, estando neste momento no último ano do mestrado de Infra-estruturas e Ambiente também do ISEP.
2 – Desde quando vive em Moçambique e por que decidiu ir?
Vivo em Moçambique desde Julho de 2012 e decidi vir porque me encontrava desempregado e a melhor oferta de trabalho que recebi foi para o mercado africano.
3 – Foi sempre seu desejo viver/trabalhar fora de Portugal ou tratou-se de uma necessidade?
Sempre foi um desejo conhecer o mundo, e podendo conciliar isso com o meu trabalho é gratificante. Antes já trabalhei em Espanha e na Eslováquia, e numa empresa alemã que me proporcionou algumas viagens à Alemanha. Ainda tenho o objectivo de conhecer os outros continentes e se for em trabalho tanto melhor. A única coisa que pode prender este desejo é o querer também criar a minha família, mas quando a vontade é grande tudo se proporciona de forma a conciliar todos esses desejos.
4 – Em que projeto é que está envolvido ?
O projecto consiste na beneficiação da estrada entre Nampula e Cuamba. A obra foi dividida em 3 troços com cerca de 110 km cada um. Nós ficamos com o lote C que liga Malema a Cuamba. Eu sou responsável por todas as estruturas de betão armado e a central de betão.
5 – Foi dificil arranjar emprego e como conseguiu ?
Foi difícil devido à crise que afectou principalmente o sector da construção. Fui enviando currículos, mas as únicas ofertas aceitáveis eram para o estrangeiro, pelo que decidi aceitar uma delas e partir. Tive em conta o prestigio da empresa, porque para trabalhar no estrangeiro precisamos de ter a confiança que vamos estar bem apoiados, muito mais quando estamos em países do terceiro mundo.
6 – Conhecia alguém em Moçambique que tenha ajudado na sua integração?
Quando aceitei a proposta comecei a perguntar a amigos e conhecidos se conheciam alguém que tivesse a trabalhar em Moçambique, até que descobri que um amigo meu se encontrava na zona de Nampula à alguns anos. Foi uma ajuda muito importante principalmente para me enquadrar com a realidade comercial e económica do país. Em relação a outros aspectos os colegas de trabalho ajudaram nessa integração porque alguns já cá estavam à algum tempo.
7 – Foi difícil a adaptação a um novo país, a uma nova forma de estar na vida e no trabalho?
A primeira semana foi muito difícil, caímos numa realidade completamente diferente da nossa, que antes só víamos na televisão, e presenciar tanta pobreza e degradação é algo chocante. A nossa obra é na província mais pobre e subdesenvolvida de Moçambique e o nosso estaleiro é em Mutuali no meio do nada, estamos a seis horas de viagem de Nampula a cidade mais próxima com condições aceitáveis para se viver. Dormimos, trabalhamos, comemos e convivemos no estaleiro o que não é nada fácil. Mas como diz uma expressão que se usa muito nestes países: “primeiro estranha-se e depois entranha-se”, com o tempo vamo-nos adaptando. Foi muito importante na minha adaptação a excelente equipa de trabalho que encontrei e um grupo de voluntários português que estava na cidade de Cuamba. Relativamente ao trabalho as dificuldades que encontrei predem-se com a pouca formação dos trabalhadores e os negócios paralelos que dificultam muito o desenvolvimento do projecto, pelo que nos leva a ter vários planos para um mesmo objectivo e a planear a obra antecipando ao máximo possível as necessidades da mesma.
8 – O que gosta mais no país onde está?
As paisagens o tempo e a praia. As paisagens são maravilhosas, as savanas. Ainda não tive oportunidade de ir a um parque natural, mas tenho esse desejo. O tempo é sempre quente, apesar de estarmos na época das chuvas andamos o ano todo de manga curta o que simplifica o guarda roupa J. Já tive oportunidade de ir a Pemba uma das zonas turísticas mais belas de Moçambique, e as praias são paradisíacas, foi uma semana muito boa.
9 – Que visão tinha da vida dos emigrantes antes de partir para Moçambique e que visão tem agora?
O objectivo mantem-se, sair do país para melhorar as condições de vida, pois poucos são aqueles que saem por querer viver noutros países. Agora a diferença é que os emigrantes são mais formados e têm objectivos mais concretos relativamente ao sucesso profissional. E tendo essa porta fechada em Portugal vamos procurar noutros países.
10 – Vai continuar a viver em Moçambique? Gostaria de trabalhar/viver noutro país? Qual? Porquê?
Neste momento o desejo é terminar este projecto, pois vai-me fazer crescer muito profissionalmente, pelo que continuarei por Moçambique. Mas gostaria de experimentar novos desafios e viver noutros países como referi acima. Gostaria de conhecer o Brasil e a Austrália profissionalmente, o Brasil por ser um mercado emergente e penso que de fácil adaptação e a Austrália por ter a ideia de ser um país com um nível de vida acima da média e para conhecer esse mercado. O meu sonho profissional mesmo, seria trabalhar numa empresa portuguesa que me proporciona-se viagens periódicas a outros países em diferentes continentes com estadias de alguns meses.
11 – Com que frequência vai para Portugal e o que pensa da situação económica do país?
Vou a Portugal 4 vezes por ano, o que não é muito mau comparando com outras empresas. A situação económica do país está muito má, e para isso contribuíram as más decisões politicas que foram sendo tomadas ao longo dos anos, mas também o que se podia esperar dos políticos que temos? Sem qualidade, sem princípios e com o objectivo de apenas se governarem a eles e não ao país. Enquanto não se mudar a classe politica penso que o país nunca irá progredir, apenas terá momentos menos maus.