Inês Rola – Chile
Inês Rola – Chile – Santiago
1 – Gostaria de saber a sua idade, naturalidade e percurso académico.
Tenho 27 anos e nasci em Lisboa.
Estudei Finanças (2003-2007) e no último ano fui para Granada através do Programa Erasmus.
Inicialmente ia por 6 meses, mas rapidamente fiquei “enamorada” e tratei dos papéis para ficar o ano completo.
Acabei a licenciatura em Espanha e procurei trabalho por lá e acabei por ir para Madrid.
Em Madrid, trabalhei 2 anos numa promotora imobiliária, Grupo Lar, que tinha um Programa de Trainees em que de 6 em 6 meses mudava de departamento.
Depois fui seleccionada por uma bolsa de estudo do Banco Santander e fiquei mais um ano em Madrid a estudar um Mestrado em Banca e Riscos.
Regressei a Portugal depois de 4 anos em Espanha. Fiz um estágio no Banco Santander que fazia parte do Mestrado e depois do estágio ingressei a trabalhar numa empresa de Software – Caixa Mágica Software, aí trabalhei 2 anos e meio. A Caixa Mágica deu-me também a oportunidade de viver 3 meses em Silicon Valley, em 2010, a promover um projecto que originou uma Startup independente – Aptoide.
Durante o último ano estudei uma Pós-graduação em Psicologia por interesse pessoal, terminando em Dezembro 2012.
Em Fevereiro deste ano cheguei finalmente ao Chile!
2 – Desde quando vive no Chile e por que decidiu ir?
Cheguei ao Chile há 2 semanas! 🙂
Vim para o Chile por vários motivos: primeiro sempre tive vontade e curiosidade de conhecer a América Latina, segundo já desde os tempos do Mestrado que o Chile me cativou – “um país na América Latina com menos fraude fiscal que Portugal!?” Tinha de conhecer esse país!! -, além de que quando estive nos EUA fiz bastantes amigos chilenos e a situação económica que se vive aqui é completamente distinta da nossa.
Juntando a tudo isto, o momento também foi impulsionado por uns amigos portugueses que vieram para cá também promover o seu negócio através de um programa do Governo Chileno – Startup Chile.
3 – Foi sempre seu desejo viver/trabalhar fora de Portugal ou tratou-se de uma necessidade?
Sem dúvida, um desejo!
Felizmente sempre tive trabalho em Portugal.
Mas adoro ser estrangeira, adoro o estimulo constante de aprender um idioma, de aprender as expressões típicas e a gíria de um determinado sítio, de conhecer lugares diferentes, rotinas diferentes, pontos de vista distintos e viajar e conhecer pessoas. Adoro o sentimento de pertencer a uma comunidade portuguesa que quando está longe de Portugal são os mais solidários e prestáveis que podem ser.
4 – Em que projeto é que está envolvida ?
Estou a trabalhar numa Consultora Financeira internacional, numa das Big 4, na área de Riscos.
5 – Foi dificil arranjar emprego e como conseguiu ?
Não foi difícil!
Deste lado do “charco” somos muito valorizados: temos uma boa formação universitária, falamos idiomas, temos experiência e somos europeus! Em comparação com os custos de uma boa Universidade cá, estudar em Portugal é barato, de qualidade e reconhecida e por isso é fácil chegar cá com uma licenciatura e mestrados muito valorizados e conseguir um bom trabalho.
Em Santiago existe “pleno emprego” – não há desempregados, todos trabalham! -, a economia tem um crescimento estável e existe uma elevada rotação a nível de empregabilidade.
Eu vinha visitar os meus amigos no final de Novembro de 2012 e então um mês antes comecei a mandar Currículos para cá. Ao fim de alguns dias comecei a ter entrevistas por skype e acabei por conseguir agendar umas 5-6 entrevistas presenciais para a semana que vinha cá. Recebi duas propostas formais de trabalho e optei por uma. Durante Dezembro tratei das burocracias para a obtenção do visto de trabalho e em Janeiro chegou finalmente o visto e fiz as malas!
6 – Conhecia alguém no Chile que tenha ajudado na sua integração?
Sim. Quando estive nos EUA fiz vários amigos chilenos e de outras nacionalidades mas que viviam e desenvolviam os seus negócios no Chile e tinha dois amigos portugueses – que por acaso também os conheci nos EUA -, que iam para o Chile também desenvolver a sua Startup.
Finalmente, com as redes sociais actualmente é fácil suavizar a integração quando se chega a um país desconhecido. Facilmente encontrei um grupo no Facebook de “Portugueses que vivem no Chile” e que fazem jantaradas de vez em quando, de repente toda a gente conhecia alguém ou um amigo de um amigo que estava cá, por isso foi fácil chegar cá já com alguns contactos.
7 – Foi difícil a adaptação a um novo país, a uma nova forma de estar na vida e no trabalho?
Somos todos latinos! Não foi difícil – os atrasos são normais, as versões diferentes de como conseguir determinado papel também… nada que os portugueses estranhem muito! 🙂
A grande diferença que senti até agora é… a quantidade de pessoas! Em todo o lado há filas, o metro na hora de ponta anda sobre lotado, muita gente nas ruas…
Mas senti também que cá estão muito habituados a estrangeiros e gostam de nós! Há muitos estrangeiros de países vizinhos a trabalhar cá também, por isso estão muito habituados a integrar pessoas, a ensinar as expressões que cá se dizem (“Cachai?”), estão habituados a que apesar de que todos falemos espanhol, que existem diferenças e aceitam essas diferenças sem que uns sejam melhores que os outros.
Por exemplo, em comparacao com Madrid, senti que cá é mais fácil a integracao com os próprios chilenos. Em Espanha, muitas vezes os espanhois juntam-se entre eles e os estrangeiros para outro lado!
No meu trabalho, tive uma integração muito fácil. É uma equipa jovem e disposta a integrar novos elementos no grupo. Ao fim de 3 dias já estávamos a combinar fins-de-semana na montanha e saídas! Acho que tive muita sorte também! Falar espanhol ajuda bastante sem dúvida!
8 – O que gosta mais no país onde está?
As empanadas de marisco e queijo!! Mnhummmiii 🙂 Estou a brincar!
Gosto das pessoas! Os chilenos têm sido super amigáveis! Gosto da música nas ruas, dos “chinchineros”, das feiras de rua, dos bares e das esplanadas! Gosto da prosperidade que se vive… da estabilidade! Gosto do facto de todos terem emprego!
E por agora… estou a adorar o Verão em Fevereiro!
9 – Que visão tinha da vida dos emigrantes antes de partir para o Chile e que visão tem agora?
Já não é a minha primeira vez de “emigrante”! 🙂
Acho que no fundo a emigração é impulsionada por 2 temas fundamentalmente: o Amor e o trabalho.
E por isso a vida dos emigrantes pode ser muito distinta.
Se estás forcado a estar num país porque o teu marido foi para lá ou porque te pagam rios de dinheiro, mas o país não te diz nada, a vida de emigrante vai ser certamente menos interessante e eventualmente frustrante culpando a falta de oportunidades que há no país de origem que te obrigam a estar onde nao queres estar!
Se os emigrantes forem movidos pelo Amor (ou até mesmo desgosto de Amor!)… então estarão mais abertos a integração, a descobrir como funcionam as coisas no país onde estão, a arriscar mais e mais abertos a “aculturação”.
Muitas vezes tentamos justificar as nossas decisões “loucas” de mudar de país com base em factores racionais como “aqui há melhores condicoes”, “aqui pagam mais”, mas acredito que a maior parte das vezes é o Amor que faz mover o mundo, dá o impulso extra que faltava ás pessoas para saírem da sua zona de conforto e experimentar algo diferente.
10 – Vai continuar a viver no Chile? Gostaria de trabalhar/viver noutro país? Qual? Porquê?
Por agora fico por cá. Tenho um contrato sem termo, pelo que não tenho nenhuma data de referência para ir-me embora.
Mas não digo que não vá viver para outro país… acho bastante provável até… mas não tenho ideia para onde.
Há um ano atrás tinha acabado de vir dos EUA e não podia prever que um ano depois estaria no Chile.
11 – Com que frequência vai para Portugal e o que pensa da situação económica do país?
O Chile está quase tão longe de Portugal como a China, não há voos directos e não são voos baratos – aprox. 1.000 euros por viagem de ida e volta!
Não tem nada a ver com a minha experiência de “emigrante em Madrid” em que dava para ir a casa um fim-de-semana!
Vim agora em Fevereiro e só tenho voo de volta para o Natal! Espero no entanto receber visitas da familía e amigos pelo meio!
A situação actual que se vive em Portugal é tristemente muito desmotivante. Os aumentos de impostos, a precaridade dos empregos e a falta de perspectivas de crescimento fortalecem as certezas de quem contempla a hipótese de emigrar. Mas também acho que não vale a pena sofrer muito com isso… são ciclos e há sempre algum lugar no mundo onde nos valorizam e podemos crescer!
Em caso de dúvida, aconselho sempre mudar!