Júlia Lopes – África do Sul – Joanesburgo

Júlia Lopes – África do Sul – Joanesburgo

1 – Gostaria de saber a sua idade, naturalidade e percurso académico.

Tenho 28 anos e nasci em Joanesburgo, Africa do Sul. Sou licenciada desde 2007 em Engenharia Civil pela Universidade do Minho e especializei-me em Gestão e Coordenação de Segurança no Trabalho da Construção através da Região Norte da Ordem dos Engenheiros.

2 – Desde quando vive na África do Sul e por que decidiu ir?

Regressei a África do Sul em Dezembro de 2012.
A tomada decisão é sempre um processo complicado, bem pensado e em família. Há muitas razões para se ficar em Portugal, mas também existe o orgulho pessoal de conseguir melhor. Decidi voltar porque efetivamente é um país de oportunidades. Existe uma linha evidente de investimento – o que se traduz diretamente na promoção e multiplicação de postos de trabalho (especializados e não especializados), implementação de entidades estrangeiras no país e excelentes empresas internacionais e nacionais sólidas.

3 – Foi sempre seu desejo viver/trabalhar fora de Portugal ou tratou-se de uma necessidade?

Penso que uma pessoa deve ter sonhos e enquanto os tiver, caminha, luta para atingir os seus objetivos pessoais e profissionais. Confesso que se em Portugal tivesse ambos os polos equilibrados e seguros, não me propunha a sair. Gosto de Portugal, da sua cultura, da história, das tradições e da afinidade que se constrói com as pessoas e os lugares.
No entanto, observando a decadência do sector da construção, a falta de investimento, a tristeza, a desmotivação, os mecanismos facilitadores de desemprego e deterioração das condições de vida, é importante tomar a decisão.

4 – Em que projeto é que está envolvida?

Neste momento, não estou envolvida em projeto algum. Aguardo a integração em projetos de energia renovável, mais especificamente Energia Eólica. O que posso acrescentar é que o sistema de recrutamento aqui é mais célere e salvaguardo, que são propostas direcionadas para a nossa formação, área de interesse e geralmente com base de vínculo permanente e bem remunerado.

6 – Conhecia alguém na África do Sul que tenha ajudado na sua integração?

O meu maior paraquedas são sem dúvida os meus pais. O meu pai que vive aqui em JHB, está sempre aqui para me apoiar e orientar em tudo o que preciso e a minha mãe, que está em Portugal e é aquela pessoa que em todos os momentos me ajuda e motiva a continuar, a não desistir.

7 – Foi difícil a adaptação a um novo país, a uma nova forma de estar na vida e no trabalho?

Adaptação, é um processo, mas nao o considero díficil. O clima na Africa do Sul é excelente! A condução aqui é feita pela esquerda, ao contrário de Portugal, isso custou-me ao início porque exige concentração e ginástica mental. As pessoas aqui vivem tendencialmente em condomínios fechados, protegidos por razoes de segurança e esses nichos são sempre muito unidos e partilha-se as necessidades, emoções e o tempo de lazer. Um meio de transporte próprio é vital, não há satisfação de necessidades pessoais (prestação de serviços, áreas de lazer e consumo, entre outros) e profissionais que não careçam de um veículo.

8 – O que gosta mais na África do Sul?

Gosto das pessoas. Está impresso na sociedade o bom gosto, a cordialidade e a preocupação pelo próximo, pelo interesse comum. Adoro o clima e a liberdade no modo de estar, vestir, existir. As pessoas são descontraídas e vivem a sua vida, à sua maneira, com quem mais gostam.

9 – Que visão tinha da vida dos emigrantes antes de partir para a África do Sul e que visão tem agora?

Tenho exatamente a mesma visão que tinha, mas um pouco mais polida. Continua-se a sair de Portugal, desta vez com mais formação e maior noção do que esperar do outro lado da fronteira. Mudaram-se os limites de exposição, quero com isto dizer, as pessoas privam-se do que tem em Portugal mas não vão por qualquer condição de trabalho, pessoal. Emigra-se para viver com qualidade de vida e abraçar projectos mais interessantes, e possivelmente para nunca mais voltar. Só posso agora partilhar as saudades, a preocupação latente de vencer, superar as hostilidades e o desejo de regressar para mimar os que esperam sempre por nós.

10 – Vai continuar a viver na África do Sul? Gostaria de trabalhar/viver noutro país? Qual? Porquê?

Pretendo ficar na Africa do Sul por muito tempo. Gostaria de organizar a minha vida aqui, crescer profissionalmente e ser feliz. Estou aqui e não vou desistir.
Quanto a outros países, pondero muito a Austrália, Nova Zelândia e o Brasil. Austrália e Nova Zelândia porque tenho uma ideia romântica antiga e finalmente o Brasil está a desenvolver-se exponencialmente, não há barreira linguística e seria sempre um bom desafio.

11 – Com que frequência vai para Portugal e o que pensa da situação económica do país?

Não antevejo regressar mais que uma vez por ano.
O País passa por imensas dificuldades, todos os sabemos. Mas preocupa-me o que será dele não daqui a cinco anos, mas 20. A juventude está a ausentar-se do País, os mais velhos são obrigados a entregar mais de si à sociedade, ao país para compensar erros profundos de gestão. A faixa intermédia está desequilibrada, desmotivada e não tem apoio suficiente. O estado social, caso não haja uma alteração na forma como se promove o emprego, manutenção das empresas existentes, está condenado. Em grandes crises, sempre se observou o investimento em empresas, infraestruturas, reabilitação, para manter o movimento económico, as pessoas ativas e o país a respirar, a recuperar.
Hoje, vejo que o foco está bem determinado, e está-se a queimar etapas a qualquer custo. É assustador o número de suicídios, práticas criminosas, degradação humana e o desligar de direitos, como deveres. Espero que melhore pelo futuro das gerações, porque é um País lindo, cheio de maravilhas e potencial.