Maria Madureira – Boston – EUA

Maria Madureira – Boston – EUA

1– Gostaria de saber a sua idade, naturalidade

33, Vizela

2 – Pode-nos falar um pouco sobre o seu percurso académico e profissional?

Depois da licenciatura em Ensino do Português e do Inglês fui assistente de línguas na Bretanha, ao abrigo o programa Sócrates-Comenius. No regresso, enfrentei algumas dificuldades para ser colocada, ficando desempregada. Acabei por lecionar Inglês no 1º ciclo até ficar colocada como professora de Português em Valongo e, no ano seguinte, em Albufeira. De regresso ao norte, em 2010, inscrevi-me no mestrado de Português Língua Não Materna – Português Língua Estrangeira e Português Língua Segunda por considerar que seria o trampolim para mais e melhores oportunidades e por precisar de outros estímulos académicos. Ao fim do 1º ano de Mestrado fui convidada para lecionar Português Língua Estrangeira na Universidade do Minho como colaboradora do Babelium, o Centro de Língua da UMinho. Foi uma aprendizagem crucial e um passo crucial para estar hoje onde estou. Vale sempre a pena traçar objetivos e concretizá-los, os meus passaram pela formação de qualidade e especializada na Universidade do Minho e, claro, a determinação, apesar das circunstâncias serem quase sempre desmotivadoras.

3 – Desde quando vive em Boston e por que decidiu ir?

Estou em Boston desde janeiro de 2013, exercendo funções como leitora no Centro de Língua Portuguesa Camões/Universidade do Massachusetts Boston. Já há muito tempo que pensava que a minha evolução profissional e académica passaria pelo estrangeiro, a oportunidade surgiu através do Camões, Instituto da Cooperação e da Língua.

4 – Conhecia alguém em Boston que tenha ajudado na sua integração?

Não conhecia ninguém, vim sozinha para cá mas contei com o apoio do Consulado Geral de Portugal em Boston.

5 – Como olhava para a cultura americana antes de se mudar para o país?

A cultura americana faz parte do meu imaginário desde muito cedo, seja através dos filmes, da música, dos livros. Eu já tinha um conhecimento alargado da cultura, mas vivê-la localmente é uma experiência ainda mais valiosa porque passamos a conhecer todas as idiossincrasias que a constituem.

6 – Para si quais os pontos positivos que da América tem enquanto país?

A capacidade que tem para por em prática ideias de negócio e de formação. Há uma proatividade e um interesse constantes pela inovação. Claro que não podemos esquecer a dimensão deste país, a probabilidade de uma ideia dar certo cá é muito maior do que num país com menor população.

7 – Foi difícil a adaptação a um novo país, a uma nova forma de estar na vida e no trabalho? Como ‘e que os americanos veem os emigrantes?

Cada cultura tem as suas diferenças estruturais, mesmo os países ocidentais na sua generalidade. Aqui em Boston percebo que se estás à espera de teres a segurança de um emprego das 9 às 5 não serás muito bem-sucedido, aqui tens sempre de provar que tens valor, ideias, iniciativas.
Aqui em Boston, e em todo o estado do Massachusetts, há uma comunidade vibrante de emigrantes portugueses já instalados há décadas e que estão totalmente enquadrados na vida americana, mas mantendo sempre vivas as tradições portuguesas.

8 – Tem alguma experiência caricata que nos possa contar sobre a sua mudança para o estrangeiro?

A procura de casa aqui é muito difícil, não só pelos preços altíssimos, mas também pelo facto de quase nenhum quarto/apartamento vir mobilado ou ter máquina de lavar e secar roupa. Em dois meses já mudei de casa 3 vezes. Já vi o Bem Affleck, ele é de Boston, a passear sozinho pelas ruas, já saí de um restaurante sem deixar a obrigatória tip (normalmente 20%) e tive o senhor do restaurante a correr atrás de mim, que vergonha!

9 – Com que frequência vem a Portugal e o que lhe faz mais saudades do nosso país?

Ainda não fui a Portugal desde que cheguei em janeiro, mas irei nas férias de verão e depois no Natal, claro. Tenho saudades de muita coisa, como por exemplo da comida, de ir ao café depois de almoço, das redes familiar e de amizades que são as minhas raízes.

10 – Em seu ver, o que leva a Am’erica a ser uma super-potencia mundial e o que nos falta em Portugal para seguirmos o modelo americano de crescimento?

Cada país tem as suas circunstâncias históricas e culturais que o faz construir-se e evoluir. Eu acho que Portugal não deve querer ser como os EUA ou qualquer outro país. A Portugal o que lhe falta é coragem política, movimentos concretos e motivados de cidadãos que se comprometam com a mudança efetiva e duradoura, que sejam capazes de ir mais além do limite das pressões de uma Europa em desequilíbrio. Não se pode esperar cidadãos absolutamente equilibrados e felizes se o país os anula nas suas pretensões profissionais e pessoais. O potencial humano, geográfico e cultural do nosso país é enorme, para começar deve pegar-se no que pode ter sucesso lá fora, exportá-lo e consumi-lo dentro das fronteiras. Os EUA são uma potência mundial a quem poderemos ir buscar inspiração mas, no final, só vingaremos se pegarmos no que é nosso e o valorizarmos ao ponto de o fazer valer dentro e fora do país. O mar, por exemplo, e toda a indústria que a ele está associada é um trampolim para esse potencial vingar. A língua e a cultura portuguesas também, como é o meu caso e o que eu faço nos EUA.

11 – O que aconselha aos portugueses que vivem em Portugal e encontram-se desempregados?

Eu fui uma desempregada intermitente e uma trabalhadora precária durante anos e sei que a desmotivação nos apanha nessa curva descendente. O que eu posso fazer é dar o meu testemunho, a minha história demorou muito tempo a concretizar-se, até chegar aqui foram anos de incertezas e desalento, e não deveria ser assim, nós não ficamos desempregados porque queremos, somos o reflexo prático e duro de um mundo que pensa em números e não em pessoas. Para além de um emprego, eu sempre quis ter uma carreira, o que eu fiz foi agarrar todas as pequenas oportunidades para que no futuro se tornassem numa grande oportunidade. Julgo que a formação nos mantém sãos e abre-nos os horizontes, acho que as conquistas de outrora (o carro, a casa, etc.) já não podem fazer parte dos nossos sonhos, temos de ser capazes de ser nómadas e criativos até mesmo dentro do nosso próprio país e querer outras coisas que não nos façam sentir frustrados. Para além disto, para quem está desempregado é crucial manter-se ativo, nem que seja a fazer um voluntariado qualquer, mas não se pode ceder à rotina que nos abate a cada dia sem trabalho. E passar as conversas de café para a plataforma do que pode efectivamente ser feito.