Eles são arquitetos e rumaram a Áustria
Têm 24 e 25 anos, são de Braga e formados em arquitetura. Um dia decidiram sair de Portugal e procurar um novo rumo, um novo país, novas aventuras. A vontade de sair estava mais que consolidada, só faltava definir uma data para que a deslocação se tornasse real. Esse dia chegou a 10 de setembro de 2014, quando Pedro Carneiro, José Ribeiro e Américo da Silva embarcaram rumo a Viena de Áustria.
A descrença total em Portugal, tanto política e economicamente, motivou-os “a embalar as trouxas e zarpar”. Pedro Carneiro afirma que grande parte do futuro dos portugueses “está nas mãos de verdadeiros cretinos, que dizem coisas tão vazias como “irrevogável” ou “os Portugueses devem dedicar-se à agricultura”, tornando a emigração rapidamente a única opção”. O que o motivou a partir foi, assim, “acreditar que, em Portugal, um dia poderia vir a ter que pagar para trabalhar”.
Em Áustria, o jovem de 24 anos, encontrou o que Portugal não lhe podia oferecer. “É um país em que se consegue atingir uma qualidade de vida elevadíssima, com trabalho e esforço”, conta ao Emprego pelo Mundo.
José Ribeiro de 25 anos conta que a oportunidade de emigrar “nunca chegou a surgir”, na realidade foram eles que a projetaram. “Na área da arquitetura é praticamente impossível surgir alguma oportunidade para estagiar ou trabalhar sem o contacto direto com os ateliês no local e cientes disto tivemos de arriscar tudo e tentar construir o nosso futuro em Áustria”, acrescenta. Num espaço de pouco tempo já se encontra a estagiar num ateliês de arquitetura de renome no país.
Ao contrário de Pedro, acredita que a qualidade de vida “não deve ser o motivo fundamental que te faça sair do teu lar”, mas sim a ideia de “fazer algo diferente na tentativa de explorar e conhecer outras realidades”. Américo realça também a qualidade de vida do país. Mas não descura o facto de que Áustria não é a sua terra, o seu país.
José afirma que o que mais lhe custou a deixar para trás foi o orgulho. “Sempre defendi que abandonar o meu país seria contribuir para um fraco desenvolvimento do mesmo, e continuo a ter essa opinião”. Mas a verdade é que reconhece que em Portugal teria de trabalhar cerca de 5 ou mais anos para ter as condições de trabalho que alcançou em Áustria num espaço temporal de dois meses. “A qualidade de vida para mim permanece essencialmente na diferença entre aquilo que ganhas ao fim do mês e as despesas essenciais, e nesse sentido este país bate recordes”, acrescenta o próprio.
Pedro, por outro lado, afirma que não lhe custou abandonar o país, excluindo a família, amigos e o seu projeto musical, uma vez que “a ideia romântica que tinha de Portugal transformou-se numa nuvem negra” que transportava sempre consigo. “Deixar essa nuvem para trás não custou nada, só foi bom”. Para Viena ser perfeita “só lhe falta mesmo o sol e o mar de Portugal”, disse. Contudo, nada lhe faria mais feliz que poder voltar, mas para já acha que “é um país ingrato” e a perspetiva de regressar está distante.
O primeiro contacto
Na semana em que chegaram, sem contar com isso, os três aventureiros minhotos foram calorosamente recebidos num jantar organizado pela comunidade portuguesa da cidade. “Não hesitámos em ir! Foi das melhores experiências, sentir, mal nos conhecemos, que parecia já sermos amigos há anos de algumas pessoas”, conta Pedro. Desde então têm sido ajudados em inúmeras ocasiões por portugueses que só conheceram em Viena. “A palavra “ajudados” não faz a mínima justiça ao que já nos ensinaram e apoiaram”, acrescenta.
Contudo, há sempre questões a que não podem fugir. A principal dificuldade é mesmo a língua. Apesar de terem estudado alemão durante um ano antes de rumar a Viena, não foi o suficiente para ter uma conversa fluída ou “mesmo para explicar a um arquiteto austríaco porque é que o gabinete dele precisa de nos dar um estágio”. Além desta, há outras diferenças. Américo, que está a trabalhar como bartender enquanto continua a procurar emprego em arquitetura, realça a frieza do povo austríaco.
José explica que o facto de serem “três amigos foi essencial para criar uma outra vida e uma outra rotina”, que acabou por os “desviar um pouco do vírus insaciável da saudade de casa que qualquer Português sofre”.
O Melhor e o Pior
O melhor de viver na Áustria são as condições de trabalho e a qualidade de vida. “Consegues sentir diariamente a rotina e a máquina da cidade, eles criam condições incríveis para trabalhadores, o sistema de transportes, os sindicatos acessíveis, a divisão do trabalho com direitos e salários distintos por sector, a segurança social, o sistema de saúde, os vencimentos e subsídios de desemprego”, explica José.
Por outro lado, como o pior do país destaca “a burocracia exigida para viveres cá, penso que são poucas as vantagens de ser um cidadão europeu neste país, o que é desmoralizante para quem é novo cá e está a tentar trabalhar para este país”. Pedro explica que se deve aproveitar ao máximo os benefícios da livre circulação de pessoas na União Europeia de forma “a lutar para que um dia todos possam escolher onde e como querem viver”.
O pior de Áustria é melhor do que o melhor de Portugal. Todos pretendem voltar um dia a Portugal, mas quando esse dia chegar esperam ter as mesmas condições que têm lá. Tal como Américo afirma “Áustria é só o início nunca o fim”.
Os três aventureiros aconselham a quem pretende emigrar serem fluentes na língua de destino, uma vez que é fundamental para arranjar emprego e para a adaptação ao país. E por último é essencial contactar pessoas portuguesas emigradas no país onde estão a pensar ir, sendo possível fazê-lo a partir de sites, blogs ou redes sociais.